🕒 Publicado em 11/11/2024
No cenário contemporâneo, marcado pelas chamadas “relações líquidas”, a busca por um parceiro estável se torna uma tarefa que muitas vezes beira a angústia, especialmente para mulheres que ainda não realizaram o desejo de ter filhos e veem a sombra da menopausa se aproximando. Esse cenário desperta conflitos profundos, tanto conscientes quanto inconscientes, que se entrelaçam com o medo da perda da fertilidade e da própria identidade feminina.
À medida que o tempo avança, o “relógio biológico” assume um papel simbólico de grande impacto na psique feminina. O desejo de ser mãe, inscrito no inconsciente, ganha contornos cada vez mais urgentes, enquanto a realidade das relações atuais, muitas vezes marcadas pela superficialidade e efemeridade, parece oferecer poucas garantias de um vínculo duradouro. O conceito de “relações líquidas”, introduzido por Zygmunt Bauman, reflete precisamente esse movimento de fragilidade nos laços afetivos, em que o outro se apresenta mais como objeto de desejo momentâneo do que como parceiro de uma construção a longo prazo.
Para muitas mulheres, o medo da menopausa não se restringe apenas à perda da capacidade reprodutiva, mas evoca um processo mais amplo de transformação psíquica. A menopausa, simbolicamente, pode ser vista como um marco de transição de uma fase da vida para outra, em que questões como a feminilidade, o desejo e o valor pessoal vêm à tona. Esse momento pode ativar sentimentos de inadequação e frustração, muitas vezes intensificados pela dificuldade de encontrar um parceiro em um mundo onde os laços parecem cada vez mais fugazes.
No entanto, é preciso lembrar que a passagem do tempo e as mudanças que ele traz também podem ser vistas como oportunidades de ressignificação. Do ponto de vista psicanalítico, encarar o medo da menopausa implica, muitas vezes, enfrentar fantasias inconscientes relacionadas à perda de controle, ao envelhecimento e à finitude, mas também abrir espaço para novas formas de ser e estar no mundo.
Nesse sentido, a mulher que se encontra nesse dilema – entre o desejo de construir uma família e o medo do esgotamento do tempo – pode se beneficiar ao buscar compreender os desejos que verdadeiramente movem sua psique. Muitas vezes, o acolhimento das angústias, seja por meio de um processo terapêutico ou pela reflexão profunda, é o primeiro passo para aliviar a pressão do “relógio biológico” e resgatar uma sensação de autonomia sobre suas escolhas.
Assim, o desafio maior não está apenas em encontrar o parceiro ideal ou em garantir a maternidade, mas em desenvolver uma relação mais profunda consigo mesma. Reconhecer que o valor de uma mulher não se esgota na função biológica de ser mãe, e que a feminilidade vai além das fronteiras impostas pela sociedade ou pelo tempo, é um caminho para atravessar essa fase com mais leveza e sabedoria.